Como vimos diversas vezes aqui no Blog, a avaliação de empresas pode e deve ser feita através de diversas metodologias de forma a garantir que o resultado encontrado seja o mais próximo possível da realidade. Mas quando estamos falando de avaliação de startups, como devemos proceder com este cálculo e como entender qual o melhor método, dentre essas diversas formas de avaliar empresas com potencial imenso, mas, geralmente com baixo ou nenhum faturamento?
É exatamente sobre isso que vamos tratar no artigo de hoje: as principais metodologias utilizadas na hora de fazer a avaliação de startups. Boa leitura!
Antes de entender sobre avaliação de startups, o que é uma startup?
Como vocês sabem, a BuyCo. empresa fundada por sócios com mais de 10 anos de mercado em avaliações de empresas, perícias, M&A e auditoria em empresas públicas e privadas. Além disso, somos uma startup!
O termo startup, apesar de relativamente novo, está cada vez sendo mais utilizado e difundido, porém, poucos sabem o que é, de fato, uma startup.
O termo surgiu nos EUA e se popularizou no Brasil a partir da bolha das empresas ponto-com, entre os anos de 1996 e 2001. Tal bolha fez com que as ações das novas empresas focadas e TIC alocadas na internet ficassem em alta. Assim, startup passou a definir o grupo de pessoas trabalhando em ideias de negócios diferentes e com alto potencial de crescimento.
Startup pode ser entendida como uma empresa com alto potencial de escalabilidade apoiado pelo uso da tecnologia em um produto ou serviço pouco explorado ou feito de maneira diferente do mercado tradicional. Observando a etimologia da palavra, ela é sinônimo de iniciar algo e colocar em funcionamento.
Hoje, o conceito mais atual e aceito é: grupo de pessoa a procura de um modelo de negócio inovador, repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza e com soluções a serem desenvolvidas.
Destrinchando esses conceitos para compreender a avaliação de startups:
– Modelo de negócio refere-se a como um negócio funciona para gerar valor para o cliente ao solucionar problemas e para a empresa que busca rentabilidade;
– Inovação refere-se ao desenvolvimento de um produto, serviço ou modelo de negócio completamente novo ou pouco explorado e superior ao que era feito até então para solucionar problemas. É por isso que muitas das startups usam tecnologia e recursos digitais, mas o conceito não se limita a isso, ok?;
– Repetível representa a capacidade de entregar o mesmo produto ou serviço em escala potencialmente ilimitada sem muitas customizações ou adaptações. Isto é, é possível replicar/reproduzir de forma simples;
– Escalável refere-se a crescer cada vez mais sem que isso influencie no modelo de negócio, podendo atingir uma massa de consumidores a custos baixos;
– Cenário de incerteza significa que não há garantias de que o modelo de negócios vai dar certo e ser bem sucedido. Por isso, quando pensamos em startups, pensamos em capital de risco e pivotagem, por exemplo.
Como fazer a avaliação de startups?
Se já é complexo responder perguntas para determinar o valor de empresas tradicionais, pois existem alguns fatores intangíveis (algo que não se pode mensurar) como a reputação e a marca, vamos imaginar o desafio que é avaliar uma empresa nascente ou ideia inovadora?
Se pararmos para analisar os modelos de avaliação tradicionais de empresas, estes usam como premissas os dados históricos e tendências baseadas nos produtos e serviços que comercializam. E como fica a avaliação de startups que, por serem nascentes, não possuem estas informações?
É por isso que criamos este artigo, para pensarmos um pouco na complexidade que é avaliar uma startup, mas, ao mesmo tempo, na importância desse processo. Afinal, o Brasil é um dos 10 países que mais cria startups no mundo. Por isso, precisamos aprender os métodos mais adequados para determinar o valor de uma startup. Isso é importante para os fundadores da startup, para sua gestão e acompanhamento da evolução, ou no momento de captar recursos e investidores a um valor justo, como também, para fornecer parâmetros e informações para pessoas interessadas em investir.
Como vimos em conteúdos anteriores, para se avaliar uma empresa tradicional utiliza-se, normalmente, os métodos: fluxo de caixa descontado, múltiplos de mercado e o método contábil. No caso das micro e pequenas empresas, surgiu o Método BuyCo., criado para avaliar pequenos negócios maduros.
Recapitulando os métodos tradicionais de avaliação de empresas
Fluxo de Caixa Descontado
O fluxo de caixa descontado é uma das metodologias mais usadas para avaliar empresas. Sua projeção é feita considerando o histórico de crescimento da empresa e o comportamento das receitas, despesas e custos ao longo dos anos anteriores para criar os cenários dos anos futuros.
Porém, as estimativas para utilizar o fluxo de caixa são baseadas em premissas já conhecidas e validadas. Isso não se aplica à avaliação de uma startup, já que não há nenhum dado histórico para servir de referência, apenas o potencial de escalabilidade do negócio.
Método dos Múltiplos
O método dos múltiplos também é muito utilizado para avaliar empresas. Por meio dele, é possível comparar o valor da empresa a ser avaliada com o valor de outras empresas semelhantes, considerando dados históricos de transações recentes ou a avaliação de empresas similares que tenham ações listadas nas bolsas de valores. Novamente, este método não se aplica à avaliação de startups que são completamente novas e inovadoras e, portanto, não podem ser comparadas.
Método Contábil
Já a avaliação pelo método contábil, também muito conhecida e utilizada, busca calcular o valor dos ativos da empresa como edificações, instalações, maquinários, entre outros. Esse método é útil em situações em que há um valor tangível e imobilizado considerável e representativo. Porém, esse não é o caso das startups em que seu maior valor se concentra em seu potencial de crescimento e em fatores intangíveis.
Método BuyCo.
Por fim, o nosso método próprio, o Método BuyCo., que é aplicado e direcionado para pequenos negócios em operação. Desenvolvemos um algoritmo de inteligência artificial com base na análise de 54 perfis de empresa e a ponderação de 5 metodologias. São elas: Base Zero, Valor do Ponto Comercial, Expectativa de Retorno, Fluxo de Caixa (sem aplicar perpetuidade) e Múltiplo Setorial para as pequenas empresas já maduras (o que as difere das startups que ainda são nascentes). Clique aqui para saber mais.
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E a avaliação de startups, como fica?
Voltando às startups, percebemos que não é possível avaliá-las utilizando qualquer um dos métodos citados anteriormente, já que não existem dados históricos, nem comparativos e, muito menos, patrimônio relevante. Já que o negócio não tem informações suficientes para permitir uma avaliação pelos métodos tradicionais, o que fazer? Complexo, não é mesmo?
Para piorar, ainda devemos considerar os riscos envolvidos, já que uma grande mortalidade atinge startups por serem algo completamente novo em um ambiente de incertezas. São conceitos inovadores que podem ter aceitação ou não. E, infelizmente, a grande maioria não prospera. Por isso, o risco é um enorme componente que devemos avaliar e que interfere muito no valor da startup.
Assim, o valuation de uma startup será resultado de uma análise de diversos fatores, juntamente com projeções econômico-financeiros e expectativas de investidores e interessados e com uma análise subjetiva sobre incertezas.
Por isso, os cálculos para avaliar startups requerem estratégias muito especializadas de valuation, pois estas empresas podem crescer muito rapidamente ou não prosperar, afinal, estão em cenários de extrema incerteza.
Existem alguns métodos que ainda contam com um grande grau de subjetividade, mas buscam fazer a avaliação de startups. Vamos destacar abaixo os mais usados por fundos de investimentos ou análise para investimentos anjo.
Métodos de Avaliação de Startups
Método de Venture Capital
O método de Venture Capital ou método do capital de risco é um dos mais utilizados atualmente, principalmente, pelos fundos. Foi criado na Universidade de Harvard e busca encontrar o valor da startup sob a ótica do investidor. Por óbvio, investidor está em busca de retorno, certo? Além disso, todo investidor sabe que, a cada 10 empresas investidas, 9 não irão dar retorno. Por isso, a que der resultados deve compensar o prejuízo das demais, ou seja, deve retornar pelo menos 20X para compensar as demais.
Basicamente, o método busca responder quanto o potencial investidor vai ter a médio ou longo prazo se investir na startup hoje. O investidor então traça o seu horizonte de saída, isto é, quando ele irá se retirar da empresa. Com isso em mente, projeta-se o resultado para aquele período, além do valor e das diluições esperadas pela empresa. Então, a partir destes dados, o investidor determinará se vale a pena e qual o valor de sua participação na startup. Esse método se aplica para startups que faturam ou não em suas fases pré-operacionais.
Como vimos, os princípios básicos para esse método se dão no retorno para o investidor. Com isso, a desvantagem é que ele desvaloriza a startup em prol do investidor.
Método First Chicago
O método First Chicago tem origem no Banco First Chicago e calcula o valor de uma startup com base na projeção de 3 cenários de valor, sendo o primeiro o cenário mais pessimista, o segundo, o mais provável e o terceiro o mais otimista.
Nos três casos, as projeções são feitas calculando o fluxo de caixa estimado para os próximos anos e sua perpetuidade e os trazendo a valor presente através de uma taxa de desconto que considera o risco e as perspectivas de mercado. Parece semelhante ao fluxo de caixa descontado, não é mesmo?
Com isso em mente, atribui-se um percentual que cada um desses 3 cenários tem para acontecer, ou seja, suas probabilidades. Para chegar ao valor final, é preciso fazer a média ponderada destes 3 cenários.
Sendo assim, o método garante uma segurança em relação ao valor que a startup pode ter no futuro e diminui o impacto das incertezas, sendo mais aplicado a empresas que já possuem faturamento.
Método Berkus
O método Berkus calcula o valor de uma startup baseado em cinco fatores. São eles: valor básico da ideia (quanto melhor a ideia, maior o valor), o protótipo ou tecnologia existente, o time gerencial de qualidade para execução, as relações estratégicas e a capacidade de produção e venda.
Na hora de calcular, cada um destes fatores terá um valor máximo em função da projeção de receita e dos resultados esperados para a startup no momento de saída. Esse método busca avaliar a empresa de acordo com a diminuição dos riscos de implementação do projeto. Quanto mais a startup estiver pronta em cada um dos critérios acima, maior será seu valor. Por isso, além de gerar o valor da empresa, este método mostra o que ainda pode ser melhorado.
Apesar de ser um método simples e muito conveniente, geralmente, ele é usado apenas para startups que tem potencial de alcançar 20 milhões de dólares de faturamento no 5º ano e por empresas que ainda não possuem faturamento e estão na fase pré-operacional.
Como vimos, o foco desse método é considerar o valor da ideia, da tecnologia, do time, do networking e da capacidade de vendas. Porém, ele carrega alta subjetividade na avaliação desses critérios e desconsidera algumas variáveis, como mercado e concorrência.
Método de Avaliação de Fatores de Risco
Como evolução do método Berkus, surgiu o método de Avaliação de Fatores de Risco aplicável a empresas que ainda não possuem receita.
Neste caso, deve-se determinar o valor inicial da startup e o ajustar com base em 12 riscos inerentes às startups. São eles: risco gerencial, estágio do negócio, risco político (legislação), risco de produção, risco sobre as vendas, risco de financiamento, risco de competição, risco de tecnologia, risco de litígio, risco internacional, risco de reputação e potencial de saída lucrativa.
O valor inicial é determinado pelo valor médio de empresas semelhantes e os fatores de risco são modelados como múltiplos de valores a serem deduzidos, com notas que variam de +2 se a empresa está bem protegida, ou -2, caso contrário. Para cada ponto, soma-se/diminui-se do valor de partida R$250.000,00. Um dos problemas é realmente encontrar informações abertas de empresas similares para comparar.
Método Scorecard
O método Scorecard representa uma abordagem mais elaborada e analítica para a avaliar uma startup e, geralmente, é aplicado em empresas que ainda não possuem receita, mas estão em funcionamento. Para calcular, primeiro é determinado um valor inicial para a startup que será ajustado de acordo com um conjunto de critérios ponderados de acordo com o seu impacto no sucesso do projeto.
Ficou parecendo o método de avaliação de fatores de risco, não é mesmo? O que os difere é que os critérios são ponderados de acordo com seu impacto no sucesso e não com base nos riscos.
O valor inicial pode ser obtido através de uma média das avaliações destes aspectos que serão multiplicados pelo valor inicial obtido antes do investimento ofertado na 1ª rodada de negociação da startup para a captação de recursos, ou por investidores anjo e fundos de Venture Capital.
São considerados e ponderados como critérios para a avaliação: a capacidade do time, a tecnologia, o tamanho do mercado e a competição. Cada fator recebe uma nota que irá gerar um multiplicador ou peso, e este será aplicado ao valor inicial do negócio.
O foco deste método está na valorização do time, da tecnologia, do mercado e da competição, porém, mais uma vez, ele carrega alta subjetividade e subestima o fluxo de caixa potencial.
Método Comparable Transactions
O método Comparable Transactions ou de transações comparáveis é similar ao método dos múltiplos que vimos acima. Nesse caso, é identificado um indicador típico do negócio para procurar transações similares com o objetivo de chegar a um valor a partir da comparação proporcional da empresa avaliada.
Para simplificar, entenda esse método como uma regra de 3 em que você precisa encontrar um indicador que seja uma boa aproximação para o valor da startup. Vale ressaltar que a escolha dos parâmetros e das empresas a serem comparadas é um fator crítico para determinar o valor.
Vale ressaltar que esses indicadores, geralmente, são aplicados em startups que já estão em operação e possuem receitas, mas também se aplicam para as que não estão faturando. Este indicador pode ser a receita recorrente, o número de usuário, o tamanho da rede social, o número de pontos comerciais, ou mesmo indicadores financeiros ou informações sobre investimentos anjo.
Esse método permite a aplicação mesmo na fase das ideias da startup, mesmo que ela ainda não fature. Nesse caso, a base de comparação é o valor de venda de outras startups na mesma fase inicial.
Como desvantagem, o método tem dificuldade de encontrar informações sobre transações comparáveis e negócios similares, além de subestimar o fluxo de caixa potencial e carregar certa subjetividade na escolha das comparações.
Qual método de avaliação de startups escolher?
Da mesma forma que acontece nas avaliações de empresas tracionais, sendo pequenas empresas ou negócios maiores, não há um método ideal, apenas aquele que melhor retrate a realidade da empresa conforme suas particularidades. Todos os métodos citados anteriormente para avaliar startups carregam uma certa subjetividade e um pode funcionar muito bem para uma startup, mas não ser o ideal para outras. Afinal, valuation não é uma ciência exata, não é mesmo?
O melhor método será aquele útil para o desenvolvimento da empresa e que atenda todas as suas especificidades, como também, as expectativas das partes. O ideal é chegar a um bom termo que permitirá o crescimento exponencial do negócio. Afinal, esse é um dos grandes objetivos das startups, não é mesmo?