Por que em alguns casos uma empresa entre cônjuges morre, enquanto outras conseguem superar os momentos críticos e ficam ainda mais fortes?
Ei pessoal, eu sou a Rafa Rossi, idealizadora e co-fundadora da BuyCo., e passei por uma experiência nos últimos 3 anos que acho muito válida de compartilhar um pouco com vocês. Ganhei muito aprendizado e cometi alguns erros que quero ajudá-los a não repetir. Então vamos lá:
Uma empresa entre cônjuges funciona?
Sim e não. A parte do sim é porque se observando a economia global, vemos que ela é liderada por empresas familiares, e a maioria entre cônjuges.
O Sebrae fez um estudo em 2018 e, segundo ele, estimativas apontam que 80% das empresas do mundo são familiares. No Brasil não é diferente. Cerca de 90% das empresas são formadas por membros de uma mesma família. No entanto, de cada 100 organizações desse modelo, apenas 30 chegam à segunda geração e menos de 10% delas sobreviverão até a quarta.
Não há como negar que os desafios que as empresas entre cônjuges enfrentam são enormes. E todas elas têm algo em comum: a importância dos relacionamentos e dos vínculos estabelecidos entre o casal. Porém, estes podem fortalecer ou enfraquecer o negócio.
Vamos abordar algumas lições fundamentais para você que deseja iniciar uma sociedade com seu cônjuge. Vale lembrar que cada parte do casal apresenta características próprias, que as diferenciam e isto é uma fundamental: buscar habilidades e características complementares é necessário para o sucesso da empresa (e também, do relacionamento). Mas isso pode e vai gerar atritos. É normal, basta manter a calma, se colocar no lugar do outro e aprender a lidar com cada situação.
Para Dave Goldberg, CEO do SurveyMonkey, “é melhor não ter um sócio do que ter o sócio errado”. Você precisa conhecer muito bem a pessoa com quem irá fazer sociedade e escolher alguém que complemente suas habilidades, mas que tenha valores iguais. Mas aí que mora o problema: um ponto mal analisado, pode custar seu relacionamento.
Então, vou contar um pouquinho, pela minha experiencia, quais as três posturas e comportamentos que devemos esperar de um sócio cônjuge.
Maturidade
Sem dúvida, está é a 1ª regra de ouro para o sucesso de uma sociedade entre um casal: ter maturidade para entender que ambos estão ali para criar algo muito grande, que poderá ser o sustento de várias pessoas e o motivo para orgulho pessoal do casal e fazer aquilo que se propuseram a fazer, que é uma das definições de empreender.
Então, neste cenário, não cabe olhar para si, para seu ego e para as coisas pessoais, mas sim, para o melhor para empresa. Se pergunte sempre, antes de iniciar uma discussão, se o ponto em conflito é o melhor para empresa ou o mais cômodo para uma das partes?
Pode parecer simples, mas coisas simples em momento de emoção não se tornam lógicas e disparam o gatilho para uma briga, um desgaste pessoal, um conflito na sociedade e isso tudo gera um desalinhamento com a missão, visão ou valores do negócio.
Com base na minha experiência, este ponto me custou muita energia, tempo e dinheiro, além de colocar minha relação pessoal em xeque várias vezes. Precisei de muito tempo para entender o conceito básico do empreendedorismo, que é resolver problemas através do seu produto ou serviço. Muitas vezes, foi feito exatamente o contrário: colocamos nossos problemas para justificar uma falha do serviço ou do produto, e isto não agregava nada, apenas deixava a imaturidade tomar conta da situação, tornando os processos de tomada de decisão cada vez mais lentos.
Solução: saiba separar o que é pessoal do que é profissional. Não leve problemas de casa para o trabalho e vice-versa.
Administração do Tempo
Um ponto que começou a trazer um desconforto para meu relacionamento, foi a gestão do tempo. No caso do meu negócio, muitas coisas devem ser feitas após o expediente de funcionamento do negócio, como dedetização, contagem de estoque, manutenção e as coisas que novamente, parecem simples, mas consomem um recurso imenso, que é o tempo.
Por mais que eu tenha entrado sabendo desta regra no jogo, durante anos administramos mal o tempo para atividades extras do nosso negócio. O problema em si não foram as atividades, mas a gestão de tempo que aplicamos, ou melhor, a falta de gestão.
A solução que encontramos foi tirar apenas um fim de semana do mês para fazer tudo. Assim os demais finais de semana podemos ficar livres para nós, nossa família e lazer. Antes disso, fazíamos pequenas tarefas todos os fins de semana e achávamos que a culpa era do negócio, mas na verdade foi a pouca sabedoria em administração do tempo que tivemos que conviver para depois aprender.
Comunicação Correta
Antes de falar de comunicação, o casal não pode se esquecer do que os levou a iniciar uma sociedade! Geralmente a formação de uma empresa entre cônjuges representa uma conquista, a realização do sonho do casal, mas se esse motivo for esquecido, o sonho perde o sentido.
Lembre-se sempre que o negócio foi criado ou adquirido para somar coisas e momentos para a família ou casal. Então, é preciso distinguir o que é bobagem e o que é realmente necessidade da empresa naquele momento.
Com um negócio em mãos, o casal não irá mais conversar apenas sobre os problemas do dia a dia, mas também, os problemas diários do negócio e tudo que ele envolve. Qual o caminho disto? A comunicação. Mas isto tem um poder de minar o negócio ou alavancar sua empresa.
Se você tem dificuldade de ter uma comunicação clara com o seu sócio sobre a empresa de vocês, vai uma dica, é importante ter o mesmo respeito que você tem para tratar seus funcionários com seu sócio cônjuge.
Comunicação parece ser tão simples, mas é um dos fatores líderes em divergências societárias que podem causar um término precoce de uma relação. Vai outra dica, antes de “soltar os cachorros” em uma decisão ou ação tomada, pare, observe e pergunte o contexto antes de emitir sua opinião. Este foi meu maior erro: muitas vezes eu criticava atitudes e posturas sem entender um conceito básico, que é a necessidade do negócio, não a minha.
E aí, vale a pena ter uma empresa entre cônjuges?
Dentre outras questões, a gestão e o controle por um casal vinculado em uma sociedade tornam a empresa o objeto de dias de luta ou dias de glória, dependendo muito da capacidade das partes em separar a relação pessoal de um negócio.
O que ocorre é um especial processo de tomada de decisão, no qual os argumentos lógicos e os dados concretos são e as vezes não são, levados em conta, e os laços afetivos tendem a exercer uma influência que pode ser boa ou ruim para o negócio, mas, com certeza, será prejudicial para seu relacionamento se esta linha invisível não estiver clara para ambos.
Aprenda a lidar com o fato de que seu parceiro tem opiniões diferentes. Respeite e saiba ouvir e argumentar. Um segundo ponto de vista pode melhorar o processo de tomada de decisão da empresa como um todo.
Inserir a cultura profissional em uma empresa entre cônjuges é sempre um desafio, cujas dimensão e consequências dependem de como o assunto é trabalhado e absorvido primeiro pelos sócios, para depois ser repassado para a equipe.
Dicas para ter sucesso em uma empresa entre cônjuges
Empreender junto ao parceiro ou parceira é um desafio. Para essa união entre vida profissional e pessoal funcionar, algumas dicas podem ajudar.
Antes de tudo, sonhem juntos. Tomaram a decisão de começar um negócio juntos? Avaliem se o momento do relacionamento é propício para esse próximo passo e tracem de forma conjunta, os planos e metas da empresa. As duas partes devem estar alinhadas, em sintonia e concordando com os rumos do negócio. Mantenham viva a relação de cumplicidade, confiança, diálogo aberto e entrega mútua para que o sonho não se torne um pesadelo.
Uma boa prática que o casal deve se empenhar para aplicar desde o início do negócio, é criar um processo de profissionalização em todos os setores da empresa, o que significa adotar métodos e rotinas profissionais, não caindo na tentação de uma abordagem doméstica ao lidar com o negócio, além de, claro, de ter um objetivo bem definido sobre as divisões e setores que cada um irá liderar.
Saibam dividir tarefas. O casal conhece muito bem um ao outro, sabendo as preferências e habilidades de cada um. Tentem conciliar tudo isso e criar sinergia com o ponto forte de ambos, mas sejam flexíveis. Nem sempre tudo vai sair conforme desejamos.
É muito importante criar caminhos para tornar sustentável o modelo de negócios, capacitar-se para inovar, atrair e reter talentos, dando-lhes espaço para tomada de decisão e não ficar procurando culpados para uma situação que as vezes tem mais a ver com uma retração do mercado naquele período do que com o próprio negócio.
Além disso, aprendam a separar o trabalho e a vida a dois. Reserve tempo para o namoro, estabelecendo limites para o trabalho e evitando que caia na rotina. Não deixe que o tempo reservado à vida pessoal seja invadido pelas tarefas da empresa.
Considerações finais sobre uma empresa entre cônjuges
Uma coisa que aprendi nestes anos de sociedade em casal, foi que a relação da empresa sempre vai alcançar a relação familiar, então, quanto menos atrito desnecessário você, sua consciência e sua inteligência emocional puder evitar, evite. Gaste energia em soluções para a empresa, não em causar dificuldades, assim você pode perder seu negócio e seu relacionamento.
Sobrevivendo a tudo isto… pode dar certo! O amor e a harmonia de um relacionamento, quando refletidos na gestão de um negócio, podem gerar ótimos resultados. E, no meu caso, depois de muito quebrar a cabeça, errar e canalizar energia em pontos errados, aprendi que tendo maturidade, administrando seu tempo para empresa e sabendo se comunicar, as chances de esta realizado um sonho grande são grandes! E sim, é um grande prazer ter um negócio bem sucedido e, ao mesmo tempo, um relacionamento que você tem orgulho de ter construído.
Mas se de tudo não estiver funcionando ser sócio do seu cônjuge, conte com a BuyCo. Nossos corretores já ajudaram milhares de empresas a encontrar novos donos e salvamos alguns casais que não sabiam lidar com a sociedade conjugal e precisaram avaliar e vender parte do negócio.