As perspectivas econômicas para 2020 eram promissoras e a tendência era que o mercado de M&A ficasse cada vez mais aquecido no país, seguindo a tendência do ano anterior. Porém, um novo contexto totalmente inesperado e sem precedentes surgiu: a pandemia do coronavírus.
As imprevisões trazidas pela pandemia do coronavírus afetaram diretamente a forma como os negócios acontecem e como a economia gira e, consequentemente, impactaram diretamente no mercado de M&A. A verdade é que o mundo está enfrentando uma situação atípica e está mudando bruscamente.
Como ficou o mercado de M&A no Brasil diante dessa situação? E quais as previsões para os próximos anos? É exatamente sobre isso que vamos tratar nesse artigo. Boa leitura!
Antes de mais nada, o que é M&A?
M&A é a sigla em inglês para Mergers and Acquisitions que, em portugês, significa Fusões e Aquisições (F&A). Podemos entender as transações de M&A como o processo de consolidação de empresas para garantir crescimento, mudança de natureza jurídica ou posição competitiva.
O mercado de M&A ganhou forças no Brasil nas décadas de 1980 e 1990 quando nosso país começou a sentir os primeiros efeitos da internacionalização e da globalização. Com isso, muitas empresas que antes não competiam com as empresas brasileiras, passaram a atuar em território nacional. Assim, para sobreviverem e conseguirem competir, diversas empresas optaram pelas transações de M&A.
Fusões representam as operações em que duas ou mais empresas se unem para formar uma nova empresa que lhes sucederá em direitos e obrigações. Já as aquisições são processos nos quais uma empresa adquire outra operação societária, total ou parcialmente, mas sem criar uma empresa.
Apesar do termo ser mais utilizado entre grandes empresas, as operações de M&A não são restritas apenas às empresas de grande porte e, atualmente, essas transações estão sendo cada vez mais utilizadas por pequenas e médias empresas como estratégia para acelerar o crescimento.
Através do M&A, é possível expandir negócios e o alcance de uma ou mais empresas, ganhar eficiência e recursos, unir esforços, economizar, conquistar novos clientes, diversificar, reduzir riscos, compartilhar conhecimentos, entrar em novos mercados, aumentar a competitividade e a capacidade, otimizar processos, superar crises, entre outros.
Mercado de M&A no Brasil
Como o coronavírus trouxe mudanças radicais na forma como o mundo vive e faz negócios, vamos dividir nossa análise em três cenários: antes, durante e previsões para o pós-pandemia.
Antes da pandemia
Como falamos anteriormente, as perspectivas para o ano de 2020 eram promissoras e a tendência era que o mercado de M&A iria crescer cada vez mais no Brasil.
Em 2018, o número de operações de M&A cresceu 28% no Brasil, atingindo a marca de R$ 177,2 bilhões. 2019, desde seu início, manteve o viés positivo demonstrado em 2018, conforme dados da PwC.
Por isso, as previsões feitas para 2019 eram as melhores possíveis: aumento das operações e da participação de estrangeiros nas operações, além da valorização de aproximadamente 6%. Os setores com maior destaque seriam tecnologia, energia, telecomunicações, consumo, saúde e educação, além das famosas startups. A perspectiva era de crescimento até o ano de 2021.
E a perspectiva se concretizou, porém, apenas em 2019. O mercado de M&A bateu recorde em 2019 e acumulou o maior volume dos últimos 5 anos, conforme dados da PwC, subindo 39% no Brasil em relação a 2018 e totalizando 912 transações. Isso se deu, principalmente, pelo crescimento do PIB, a melhora nos indicadores financeiros, o aumento do nível de confiança dos empresários, a redução do risco país, a agenda de reformas encaminhada, o aumento dos números de IPOs, além de juros e inflação em suas mínimas históricas. Essa perspectiva e melhora econômica fomentou os investimentos de longo prazo e, consequentemente, as fusões e aquisições.
Porém, a pandemia do coronavírus mudou completamente o cenário em todo o mundo. E o Brasil não ficou fora dessa.
Durante a pandemia
A pandemia trouxe impactos diretos para o M&A, causando paralisação, adiamento e cancelamento de transações.
Brasileiros foram os primeiros a pisarem no freio. Somente o tempo dirá quais acordos serão fechados conforme a aversão ao risco ou conforme a sobrevivência das empresas em negociação. A tendência agora são transações demoradas e cautelosas.
No início, avisamos aos nossos clientes sobre a volatilidade do mercado e a baixa compulsão de potenciais compradores, reduzindo o volume de ofertas de compra e, consequentemente, a demora na efetivação de processos.
Além disso, como a situação de muitas empresas ficou insustentável, recebemos várias novas empresas à venda gerando mais opções para compradores, logo os preços foram reduzidos.
Nesse momento, as negociações não podem acontecer presencialmente e uma conferência online não tem o mesmo efeito. Provavelmente ainda é cedo para uma mudança tão radical, mas muitos já estão se adaptando à nova realidade desafiadora para que o mercado não fique estagnado. Essa tendência virtual pode fazer parte do “novo normal”, podendo permanecer até no pós-pandemia.
No Brasil, diversas empresas foram impactadas, aumentando os pedidos de recuperação judicial e falência. Infelizmente, muitos negócios fecharam, mesmo com grande potencial de retorno econômico, porém totalmente descapitalizadas.
Como ainda estamos vivendo a pandemia, ainda não é possível mensurar com assertividade os efeitos econômicos, porém, em muitos locais, já é possível perceber o início de uma retomada gradual.
Em transações assinadas antes da pandemia, mas pendentes de fechamento, são previstas discussões associadas à possibilidade de desistência. Já as operações recentemente fechadas, podem originar discussões associadas a quebras ou incompletudes de declarações, garantias e direitos.
Ciclos de M&A são longos, por isso, o que estamos enfrentando tende a se refletir mais adiante. Durante as desacelerações, o volume total e o valor dos negócios tendem a cair substancialmente e demoram a se recuperar.
Pós-pandemia
O cenário ainda é muito incerto, afinal, a pandemia ainda não acabou. Diversos países já estão enfrentando a segunda onda de contaminações e ainda não surgiu uma vacina.
Por isso, algumas negociações já iniciadas vão ter alargamento no prazo de concretização. Em alguns casos, algumas operações também podem ser canceladas caso a pandemia se estenda por muito mais tempo. Porém, algumas operações que estavam em espera, já começaram a se reaquecer.
Um dos problemas apontados é a falta de referência de valor e perspectiva de crescimento para os próximos anos. Por isso, valuation e due diligence serão processos que ganharam cada vez mais destaque, reduzindo os riscos das transações em meio a um cenário ainda incerto.
Afinal, quem compra uma empresa precisa redobrar a atenção sobre os valores negociados para não cair em armadilhas de mercado, bem como, na veracidade das informações e nos riscos envolvidos. Já quem está vendendo, colocará todos os esforços para salvar a empresa e deve fornecer informações verídicas para evitar a invalidação de contratos, bem como, deve estar atento a todas as cláusulas, em especial, aquelas que tratam da rescisão em casos extraordinários e imprevisíveis (como é a cláusula MAC que já abordamos aqui no Blog), além das que falam sobre declarações e garantias.
Em relação ao Valuation, muitas mudanças estão por vir no novo contexto econômico. Afinal, estamos enfrentando baixa na bolsa de valores, variações expressivas no câmbio e uma projeção desfavorável. Por isso, a tendência é que haja uma precificação menor.
Como já abordamos aqui no Blog, uma precificação menor pode ser uma excelente oportunidade para comprar empresas na baixa e acelerar a venda de empresas. Porém, tudo deve ser bem alinhado e planejado. Afinal, o cenário ainda é muito nebuloso e todo o cuidado é válido para analisar riscos e reconhecer armadilhas.
Considerando o mercado, vale a pena pensar em transações de M&A agora?
Algumas observações são relevantes de serem analisadas:
- Com o dólar valorizado, o investimento em empresas brasileiras ficou mais atrativo para estrangeiros;
- O Banco Central acelerou a redução da taxa SELIC para estimular e trazer liquidez para a economia, favorecendo a capitalização e o financiamento das atividades empresariais;
- Como várias empresas infelizmente não resistirão aos efeitos adversos da crise, a competitividade reduzirá;
- O Brasil ainda carece de infraestrutura e competitividade em vários setores, por isso, com recursos em caixa e uma boa gestão, muitas empresas podem prosperar;
- Mesmo diante da crise, muitos setores se mostraram resilientes e capazes de gerar caixa: saúde, e-commerce, logística, energia, tecnologia e educação são alguns exemplos;
- Empresas que antes não tinham interesse em novos sócios ou estavam supervalorizadas precisaram repensar as estratégias e estão mais receptivas e abertas para investimentos devido à necessidade de capitalização para sobrevivência.
Apesar de muitas empresas não resistirem, aquelas que mostrarem força e resiliência terão grandes chances de receber capitalização. Por isso, já foi percebida uma retomada gradativa no mercado de M&A, principalmente pela baixa precificação e pela necessidade de caixa, o que favorece investidores que estão enxergando a crise como uma oportunidade.
Além disso, as fusões não envolvem dispêndio de capital e geram sinergia para que empresas possam enfrentar juntas os efeitos da crise. Por isso, a tendência é de alta.
Uma coisa é certa: quando a nebulosidade passar, é provável que haja a retomada de investimentos em M&A, internos e externos. Por isso, prepare-se: as decisões de hoje que vão definir o valor do seu negócio amanhã!
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